Álcool:
vilão para a família e para o comércio.
Lei
Antiálcool multa dezenas de estabelecimentos e tenta evitar que histórias como
a de Paulo se repitam.
Um
gole de álcool e o fundo do poço. Quem bebe pela primeira vez não associa a
cerveja, por exemplo, à destruição da família e do futuro e que a bebida
pode levar ao vício de outros entorpecentes.
Uma
pesquisa do governo estadual aponta que 18% das pessoas entre 12 e 18 anos
bebem regularmente. Outra revelação é que quatro a cada dez menores de idade
compram bebidas alcoólicas nos estabelecimentos comerciais.
Para
impedir a venda e o consumo a menores, foi criada a Lei Antiálcool. Em
dois meses, 34 estabelecimentos foram multados em Sorocaba, segundo a
Secretaria Estadual de Saúde.
O
comerciante tem de pedir o documento de identificação ao consumidor para
realizar a venda ou deixar que o produto seja consumido no local.
Aos
13/ O mesmo estudo mostra que o consumo de álcool começa, em média, aos 13
anos, mesma idade em que
Paulo (nome fictício), 25, tomou o primeiro porre.
Ele
relata que a sua porta de entrada para o vício das drogas foi a bebida. Só
percebeu que estava doente depois que perdeu a namorada e começou a vender as
roupas que vestia. “A primeira vez que experimentei cerveja foi na infância.
Tinha uns 8 anos. Foi meu pai quem me ofereceu. Aos 13, fiquei bêbado com
destilados”, conta.“Para mim, bebida era sinônimo de alegria. Meus amigos e eu
nos reuníamos aos fins de semana para encher a cara.”
Aos
17, Paulo estava viciado em maconha, cocaína e crack. “Eu achava que podia
controlar a vontade, mas o corpo pedia mais droga”, afirma.
A
procura por ajuda ocorreu quando o rapaz não tinha mais controle da sua vida.
“Primeiro a gente nega que tem o vício, mas percebe que tudo está fora de
controle. Não rende no serviço, quer trocar tudo que tem por droga e causa
sofrimento à si e à família”, detalha.
Há
dois anos ele está “limpo”. Nunca ficou internado em uma clínica de recuperação
e participa de reuniões em grupos de apoio quatro vezes por semana. “Eu nunca
poderei voltar a beber, pois o corpo não diferencia o tipo de droga consumida”,
diz. “Para o resto da vida terei de fazer tratamento. Hoje, graças a Deus,
consigo me controlar.”
Família/
De acordo com a psiquiatra Maria Clara Schnaidman Suarez é a família quem
incentiva o uso de bebida alcoólica. “O pai ou a mãe dá a desculpa que a
criança ficará com vontade, então molha a chupeta na cerveja”, descreve os
casos mais comuns. “Não dá para descobrir quem tem pré-disposição a ser
dependente.”
A
psiquiatra diz ainda que a primeira droga a ser experimentada é o álcool,
seguido da maconha. “Ninguém atribui à bebida alcoólica à dependência porque
ela é lícita”, explica. “A melhor coisa é evitar o primeiro gole ou trago.”
Diálogo
é o melhor caminho
As curiosidades surgem na adolescência. Pais contam que usam a conversa para
orientar
Apesar
da fiscalização em bares, lanchonetes e restaurantes pela Lei Antiálcool, os
pais de adolescentes se preocupam com o bem-estar dos filhos quando eles saem
para se divertir. “A educação começa dentro de casa. Sempre oriento meu filho a
não ingerir bebida alcoólica”, diz a professora Márcia Garibaldi Barreto, 58
anos. “Longe dos nossos olhos fica difícil creditar a confiança nos
estabelecimentos, pois alguns podem descumprir a legislação.”
Seu
filho, o estudante Lucas Garibaldi, 17, revela que já experimentou bebidas
alcoólicas, mas não gostou. Por isso, quando sai deixa a mãe despreocupada.
“Detesto o sabor e quando vejo meus amigos passando por vexames por causa da
bebedeira, tenho mais certeza que não quero isso para mim”, afirma.
A
psiquiatra Maria Clara Schnaidman Suarez orienta que a família é quem deve
dialogar com os adolescentes e alertar sobre os riscos que o vício pode causar
à saúde.
A
dona de casa Neuci Andrea Rodrigues Pereira, 51, por exemplo, tem esse tipo de
conversa com a filha, Andrea, 17. “Como ela tem diabetes, lembro que não
pode beber.”
A
moça relata que também nunca teve curiosidade de experimentar.
“Digo à ela que, se tiver vontade, pode tomar. Se disser que não pode, sei que
isso vai aguçar a vontade”, conta a mãe.
De
olho/ Conforme a Vigilância Sanitária de Sorocaba, os resultados da Lei
Antiálcool na cidade apontam que o trabalho de fiscalização é eficaz. “A
legislação quer evitar a ingestão precoce, nociva e perigosa de bebidas
alcoólicas por crianças e adolescentes, pois pode causar dependência,
doenças, problemas familiares, violência, acidentes e mortes”, diz a
diretora da Vigilância Sanitária, Maria Cristina Megid.
Mesmo acompanhados dos responsáveis, menores de idade não
podem comprar ou ingerir bebida alcoólica em estabelecimento comercial.
Tatiane Patron
Nenhum comentário:
Postar um comentário