sexta-feira, 30 de maio de 2014



As drogas na Suécia.


Senado.gov.br
Ao contrário da tendência europeia de descriminalização, na Suécia o consumo de drogas é considerado crime, com punição de até três anos de prisão, desde 1993. Mais de 90% dos suecos rejeitam a tese da descriminalização ou da legalização das drogas. Essa política é associada a fortes ações de prevenção e a tratamento efetivo. Prioridade nacional na Suécia, ela envolve governo, ONGs, voluntários, empresas, escolas, igrejas e famílias.
Nos últimos 30 anos, o número de dependentes de drogas na Suécia caiu de 12% para 2%. A taxa de usuários de cocaína é um quinto da taxa dos países vizinhos, como Inglaterra e Espanha. E, segundo as informações trazidas ao Senado pela embaixadora da Suécia, Annika Markovic, até o momento o país está livre do crack.
Há grande investimento na repressão às drogas: 60% dos recursos da polícia de fronteira, por exemplo, são usados com esse fim. “Rejeitamos todo e qualquer tipo de droga não medicamentosa e não aceitamos a integração das drogas em nossa sociedade”, afirmou a embaixadora. Dessa forma, não há distinção entre drogas leves ou pesadas na Suécia.
As pessoas suspeitas passam por testes para detecção do uso de drogas. No caso de condenação à prisão, se o usuário representar um risco a si próprio ou à comunidade, o tratamento pode ser compulsório, por no máximo seis meses. Depois disso, ele escolhe se continua se tratando ou se vai para a prisão.
“O tratamento visa preparar o dependente a retornar ao convívio social, incluindo trabalho comunitário e terapêutico”, assinalou Annika, revelando que o serviço social da Suécia mantém contato com cerca de 80% dos usuários de drogas injetáveis.
A embaixadora Annika Markovic: legislação mais rígida no combate ao tráfico e nas punições aos usuários.

quarta-feira, 28 de maio de 2014



VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ?


Jairo Bouer - O Estado de S.Paulo

Na última semana em Genebra, durante a Assembleia Mundial da Saúde, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, defendeu uma maior regulamentação das propagandas de cerveja aqui no Brasil. A informação é do correspondente do Estado Jamil Chade. Mas será que essa intenção tem chance de se concretizar, vencer as resistências no Congresso e da indústria de bebida e conseguir sair do campo das muitas promessas feitas em conferências internacionais?
A atual lei restringe apenas a publicidade de bebidas com teor alcoólico mais alto (destilados, vinho) nas primeiras horas da noite. Assim, as cervejas e as bebidas "ice", justamente duas das categorias que têm forte apelo junto ao público jovem, escapam da regulamentação e podem ser exibidas antes das 21 horas.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) duas semanas atrás, já comentados nesta coluna no último domingo, mostram que ocorreram mais de 3,3 milhões de mortes no mundo em 2012 por causa do álcool (mais que as mortes por aids, violência e tuberculose juntas). Os números mostram que o consumo per capita de bebida no Brasil é um dos mais elevados do mundo, com quase 9 litros/ano entre os maiores de 15 anos. A média mundial é de pouco mais de 6 litros/ano. O relatório também mostrou que, enquanto na população adulta cerca de 7,5% fazem consumo abusivo esporadicamente, na população jovem esse índice alcança quase 12%.
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgada há duas semanas, durante o Seminário Internacional de Álcool e Violência, e publicada no Estado, mostra outro fenômeno preocupante: quase 90% das atléticas das universidades públicas e particulares de São Paulo têm algum tipo de parceria formal com a indústria de bebida para compra de cerveja por preço diferenciado, patrocínio a eventos e prêmios por desempenho nas vendas. O trabalho foi feito entre setembro de 2013 e maio de 2014.
A pesquisa mostrou ainda que metade dos universitários nunca pensou nos riscos do consumo de álcool. Já a outra metade experimentou situações de risco após exagerar na bebida, como dirigir, brigar ou fazer sexo sem proteção.
É claro que hoje existe um apelo muito forte da bebida no público jovem. Para eles, festa com bebida em abundância e barata é sinônimo de diversão garantida. "Beber até cair" ou "ficar bem bêbado" são motivações difíceis de serem quebradas nesse universo. Pior, quanto mais cedo se inicia esse padrão de abuso, maiores as chances de o jovem ou o adulto vir a enfrentar um problema de dependência.
Propostas? Que tal uma discussão mais estruturada na escola sobre consumo responsável de álcool feita desde o ensino fundamental, de forma sistemática, seriada e adaptada à fase de vida do aluno. Depois, como pensar em projetos de recepção aos calouros nas universidades que discutam o tema dos impactos e riscos do uso nocivo de bebida já na primeira semana de aula? Para completar, que tal programas de identificação e suporte para quem enfrenta problemas de consumo nocivo (em torno de 10% dos jovens que bebem)? Que tal ampliar o debate sobre regulamentação de propaganda de cerveja e outras bebidas de baixo teor alcoólico de forma efetiva na televisão, rádio e internet? E a maior fiscalização sobre estabelecimentos que vendem ou permitem que o jovem beba em suas dependências? Que tal reavaliar o papel da indústria de bebida em eventos universitários esportivos ou culturais?
Talvez, dessa forma, com medidas que tenham foco em educação, prevenção e regulamentação de publicidade, se consiga reduzir o apelo e o impacto que a bebida tem com o jovem. Funcionou com o cigarro, que teve seu consumo reduzido nas diversas camadas da população, até mesmo entre os adolescentes. Será que, apesar das peculiaridades sociais e culturais, não poderia funcionar com o álcool também?


ADOLESCENTES NO BRASIL.


O Brasil é o superpoder da América do Sul e logo terá a Copa Mundial.  Os olhos de todo o mundo estarão nos observando.
O programa de Polícia Pacificadora continua nas Comunidades e o PCC cresce.  A polícia tem que cuidar tanto dos crimes em geral quanto do submundo das drogas do qual o álcool e o crack são os piores.
Várias autoridades políticas do Brasil estão lutando para criar leis para que a maconha seja vendida e consumida legalmente.  Estão tomando os Estados americanos Colorado e Washington como exemplos.
Nos Estados Unidos a maconha medicinal é legal.   Tem ganhado $ 1.43 bilhões de dólares por ano e ganhará $ 2.34 bilhões em 2014.
O dever principal do Governo deve ser assegurar o bem estar dos seus cidadãos.  No caso das drogas é importante usá-las apenas com propósitos medicinais.  Algumas autoridades governamentais esquecem que a maconha prejudica permanentemente o cérebro dos adolescentes que estão em desenvolvimento.
Os adultos que usam drogas e fumam maconha livremente dão mau exemplo aos adolescentes, levando-os a acreditar que a maconha não tem consequências negativas. Eles não sabem que a maconha, entre outros males, permanece na gordura por muito tempo como as outras drogas.
O álcool é uma solução de água, dissolvido em 1 hora pelo fígado se não for consumido em excesso, o que causa hepatite C e cirrose.  Queremos ter nossos pilotos de aviões, motoristas de táxi e outros profissionais usando drogas permitidas por lei em seus trabalhos?
Se a maconha for legalizada vai ter muito mais poder financeiro do que o tabaco.
Os promotores da legalização da maconha já tiveram muitas reuniões com as indústrias da cerveja, do vinho e de outros tipos de bebidas alcoólicas. Esperam um grande aumento no retorno financeiro. Esquecem que 39% dos viciados em maconha chegam a ser alcóolatras e dependentes de outras drogas. Sofrem de depressão, baixa autoestima, medo, ansiedade, outras doenças psicológicas e doenças físicas, delírios e até morte.
Nenhum terapeuta que trabalha no submundo do álcool e de outras drogas é a favor da legalização da maconha.
Vamos lutar com toda a nossa inteligência e força para que as autoridades não legalizem a maconha!
HAROLDO J. RAHM, SJ – Presidente de Honra da Instituição Padre Haroldo e do Amor-Exigente

domingo, 25 de maio de 2014




Prefeitura tem de bancar internação de dependente.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) manteve a decisão do juiz Jorge Canil, da 1ª Vara Judicial de Votuporanga, que determina que a Prefeitura pague a internação de B.H.F.C, um jovem cuja idade não foi revelada. De acordo com o processo, o pedido para o custeio da internação involuntária foi feita pela mãe do rapaz, que afirma que o filho é usuário de crack há pelo menos cinco anos.

A prefeitura entrou com recurso contra a decisão da 1ª Vara, mas o desembargador Reinaldo Miluzzi manteve a decisão do juiz Jorge Canil. “Levando em consideração os precedentes transcritos, era mesmo hipótese de procedência da ação, pelo que fica mantida a bem lançada sentença recorrida. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento aos recursos”, consta na decisão do TJ.

Procurada nesta quinta-feira, 22, pela reportagem, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que está recorrendo em instâncias superiores, mas que a “Secretaria de Saúde irá acatar a decisão da Justiça”. Serviço Votuporanga conta há dois anos com um Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas (Caps - AD), que atende atualmente 366 usuários de álcool e de drogas.

“A maioria é usuário de múltiplas substâncias, mas 80% têm o crack como a droga de preferência”, disse o coordenador da rede de saúde mental de Votuporanga, Reinaldo Antônio de Carvalho. O Caps - AD oferece uma gama de serviços gratuitos para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) como acolhimentos, atenção familiar, atendimentos com psicólogos, enfermeiros, médicos, assistentes sociais e oficinas terapêuticas.

“Fazemos uma média de oito acolhimentos por semana”, afirma o coordenador da rede de saúde mental de Votuporanga. O Caps – AD.


Diário Web - Luciano Moura

quarta-feira, 21 de maio de 2014


mageonline com

O PODER DO MÉTODO CIENTÍFICO.

Lygia da Veiga Pereira - Blog As meninas Online

O método científico consiste em observar algum fenômeno, levantar hipóteses para explicar o mesmo, realizar experimentos para testar as hipóteses, e com base nos resultados confirmar ou não as mesmas.  O método é tão poderoso que vai além da ciência: firmas de consultoria prospectam novos funcionários entre Ph.D.’s de qualquer área, não por causa de seu conhecimento específico, mas sim porque, por definição, os doutores aprenderam a resolver problemas baseando-se em evidências.  Parece óbvio, mas é impressionante o quanto se é decidido ou concluído baseando-se em “impressões”, “sensações”, “senso-comum”, ou “experiência própria”…

Todo esse preâmbulo para eu falar de um estudo muito impressionante sobre as consequências do uso contínuo de maconha no Q.I..  Por favor, usuários, não se irritem nem se sintam pessoalmente agredidos pelo estudo – não há ideologia, é pura ciência.  A mesma ciência que nos mostrou que fumar aumenta o risco de câncer de pulmão e de doença cardíaca, que alto colesterol e pressão alta aumentam o risco de doença cardíaca e derrame, que obesidade aumenta e exercício diminui o risco de doença cardíaca.  Tudo muito óbvio para o homem contemporâneo, mas no início dos anos 1950 nada disso era conhecido – fumávamos, bebíamos e comíamos sem nos dar conta do que estávamos fazendo com nossa saúde.

Foi acompanhando por décadas mais de 5 mil adultos na cidade de Framingham, nos EUA, que chegamos a essas conclusões.  Os participantes do Estudo de Framingham  eram submetidos a entrevistas médicas detalhadas, exames físicos e laboratoriais a cada 2 anos, gerando uma enorme quantidade de dados epidemiológicos que permitiram identificarmos todos aqueles fatores de risco para nossa saúde.

Ora, numa época em que debatemos intensamente a legalização de novas drogas, o que tornaria a maconha mais acessível a jovens, é fundamental sabermos no que estamos nos metendo em termos da nossa saúde.  E apesar de eu ter amigos queridos, maravilhosos, felizes, bem sucedidos e geniais consumidores assíduos de maconha, isso não prova que ela é inócua – vamos às evidências científicas.

Existem vários trabalhos associando o uso regular da maconha com um pior desempenho em testes neuropsicológicos. Porém, em geral os estudos comparam um grupo de usuários da droga com outro de não usuários. Mas como não sabemos qual era o Q.I. do pessoal do primeiro grupo antes de começarem a fumar maconha, não sabemos se estamos comparando grupos de pessoas semelhantes que diferem somente no quesito uso de maconha, ou se originalmente um grupo era menos inteligente do que o outro.

Para resolver isso, cientistas da Nova Zelândia usaram uma estratégia equivalente à do Estudo de Framingham, acompanhando 1.037 indivíduos desde o nascimento até os 38 anos de idade – o Estudo de Dunedin.  Agora sim eles poderiam acompanhar a evolução do Q.I. de cada participante ao longo de sua vida, e ver o que acontece com aqueles que usam drogas versus os que não usam ao longo dos anos.  O consumo de maconha (pelo menos 4 dias por semana) foi determinado aos 18, 21, 26, 32 e 38 anos de idade, e os testes neuropsicológicos foram feitos aos 13 anos, antes do uso de maconha, e aos 38 anos.  Como os participantes tinham Q.I.´s diferentes, o parâmetro medido foi a variação de Q.I. ao longo do período.

O estudo mostrou que entre os 13 e os 38 anos, enquanto os “caretas” tiveram uma pequena alta de Q.I., os consumidores tiveram declínio de Q.I., sendo que aqueles que usaram maconha por mais tempo tiveram o maior declínio de Q.I.. O estudo é bem rigoroso, e controla para outros fatores como escolaridade, consumo de álcool ou outras drogas, e esquizofrenia, que possam influenciar nas diferenças de Q.I. . Mesmo assim, o grupo consumidor assíduo tem um declínio de Q.I., enquanto o outro grupo não.

Mas esse déficit de Q.I. é importante, tem algum impacto na vida do consumidor, ou é só uma curiosidade matemática? Para avaliar isso, cada participante elegeu “pessoas que os conheciam bem”, que responderam questionários sobre memória e atenção de seus amigos.  E de fato, segundo a avaliação dos amigos, os que consumiam maconha tinham muito mais problemas de memória e atenção, e quanto maior o consumo, maiores os problemas.

Outro objetivo do estudo foi avaliar se esses efeitos da maconha eram mais acentuados em adolescentes.  O cérebro do adolescente está em intensa atividade de desenvolvimento, e por isso pode ser mais suscetível aos efeitos tóxicos das drogas. De fato, entre os consumidores assíduos de maconha, aqueles que começaram na adolescência tiveram um maior declínio em Q.I. do que os que começaram na vida adulta (8 pontos!)…

OK, estou convencido, vou parar de fumar, tudo bem?  Se você começou na adolescência, tudo médio… O estudo mostrou que aqueles que fumavam desde a adolescência ainda apresentavam declínio de Q.I. mesmo tendo diminuído o consumo drasticamente (de 365 para 6 dias por ano) no último ano.

Em conclusão, o uso contínuo de maconha por 20 anos foi associado a um déficit neuropsicológico, que aumenta com o aumento do consumo.  Esse efeito está mais concentrado naqueles que começam o uso na adolescência, e é notado por pessoas próximas.  E talvez mais grave, o déficit de funções cognitivas naqueles que começaram o uso da maconha na adolescência persiste por pelo menos um ano após o cessar do consumo.

Q.I. é parâmetro de felicidade? Não sei. O que cada um quer fazer com essas informações, faz parte de seu livre arbítrio. Todos nós sabemos os efeitos nocivos de tantas coisas que teimamos em consumir, e a decisão individual é uma equação complexa de custos e benefícios muito particulares. Mas quando estamos falando de políticas públicas, que vão afetar toda a sociedade, sim, é fundamental nos valermos de evidências científicas para elaborar regras que protejam a saúde da nossa população.  Como discuti em meu outro artigo (Mamãe, droga é bom?), política pública é outra equação bem complexa, e esse efeito da maconha no cérebro dos jovens é um de seus fatores, a meu ver com um peso importante.

Leia mais em: Persistent cannabis users show neuropsychological decline from childhood to midlife. PNAS, 27 de Agosto, 2012.

Dr-Claudio


Legalização da maconha: a quem interessa?

É natural que um assunto complexo gere discussão e polêmica. Mas, sempre que ouço alguma opinião a esse respeito, me pergunto: quais são a motivação, os interesses e as avaliações que estão subjacentes à ideia da legalização da maconha? Naturalmente, são diversos motivos. Alguns dos que imagino, gostaria de compartilhar com os leitores.

Antes, alguns dados objetivos precisam estar em mente: 75% dos brasileiros não concordam com a legalização; 11% concordam. O restante não sabia opinar ou não respondeu à pesquisa Lenad 2012. Em número de pessoas, isso significa que 111 milhões de brasileiros não concordam com a legalização e que 16 milhões concordam. Como os dados com o perfil dessas pessoas não foram ainda avaliados, e suas motivações não foram objeto da pesquisa, vamos aqui levantar algumas hipóteses a respeito de quem seria essa minoria de brasileiros que concordam com a legalização.

Entre eles existe um grupo, manifesto, que acredita que a legalização vai regular o consumo, a produção, a distribuição, e com isso haverá diminuição do tráfico e da violência. Está subjacente à essa ideia o alto controle estatal, como aconteceu no Uruguai. O Estado deverá conseguir fiscalizar a venda de sementes, o número de pés de maconha plantados, a idade de quem planta, quem usa e a quantidade que usa, quem comercializa e quem compra. Quem defende essa posição deve acreditar que a maconha é uma droga que merece controle, que não deve ser liberada totalmente. Deve acreditar que pelo menos para alguns a maconha traz prejuízo, caso contrário não faria sentido tanta regulação do Estado.

Eu faço parte de um grupo que questiona: tendo em vista que a experiência brasileira na regulação e no controle do mercado de álcool e cigarro não é boa, por que seria diferente com a maconha? Regular tantas etapas do processo, além do comércio ilegal que continuará existindo, é viável, factível? Tendo em vista a dimensão do Brasil, nossa história, nossa cultura e nossos hábitos, podemos nos comparar com Uruguai, Holanda, Portugal, Estados Unidos? Se o Estado brasileiro não conseguiu fazer frente às forças do mercado de bebida e de cigarro no controle de propaganda, distribuição e venda de seus produtos, por que seria diferente com a maconha? Por exemplo, não se conseguiu restringir o consumo de bebida nos estádios durante a Copa. A lei foi rediscutida em razão do poder econômico. Ao se formar um mercado de maconha, ele não vai se organizar, se fortalecer e exercer seu poder sobre o Estado? Ou, ao contrário do mercado de bebida e cigarro, ele vai passar a considerar interesses de saúde pública e dos mais vulneráveis (crianças, adolescentes, doentes mentais)?

Existe outro grupo que acredita que a liberdade das pessoas deve ser prioridade. As pessoas todas teriam plena condição para avaliar os riscos e os benefícios de seu comportamento e para decidir o que é melhor para si. Essa é uma questão filosófica interessante. Existe uma teoria em psicanálise que diz que a cidadania e a convivência coletiva só foram possíveis quando o homem conseguiu reprimir alguns de seus impulsos primitivos individuais em prol do interesse da maioria e do bem comum. Para o bem-estar do grupo, não sujamos as ruas fazendo nossas necessidades fisiológicas, embora isso nos custe algum esforço e o cumprimento de algumas regras que contrariam a satisfação imediata e pura dos impulsos e desejos primitivos. Este é o princípio: se algum desejo individual prejudica o bem-estar do grupo, ele precisa ser revisto. Assim, pergunto: o que é melhor para o bem comum, e não para o indivíduo? A vontade do indivíduo deve se sobrepor à vontade do grupo?

Ainda nesse campo, temos a psicologia comportamental, que se baseia no argumento de que o ambiente (cultural, social, econômico etc.) influencia a decisão das pessoas. Ninguém é totalmente livre e desprovido de interferências externas. O mercado, a propaganda, o preço, a atitude do grupo influenciam a decisão das pessoas. Não é só isso. A dependência turva a liberdade de escolha. E maconha causa dependência: 37% dos brasileiros que usaram maconha no último ano preenchiam critérios de dependência (Lenad). Isso não é um questionamento. É um fato.

Existe ainda o grupo de usuários de maconha. Essas pessoas gostariam de sair da ilegalidade e não sofrer preconceito e exclusão. E, naturalmente, uma parte delas gostaria de continuar usando. Fato: cerca de 3% da população brasileira usa maconha. Questão: nesse grupo, imagino que existam vários subgrupos, como aqueles que usaram eventualmente e não tiveram problemas e querem continuar usando. Aqueles que usaram, tiveram problemas (desenvolveram um quadro psicótico e perderam a capacidade de ajuizamento crítico) e não conseguem perceber os prejuízos e, por isso, querem continuar usando. E aqueles que, embora usem, gostariam de parar.

Sobre isso, me pergunto: não seria mais fácil e justo proteger os mais vulneráveis com capacidade de ajuizamento crítico prejudicado? Não existe outro modo de tratar os usuários sem preconceito e exclusão que não seja colocar em risco os outros mais vulneráveis? De fato, os mais vulneráveis talvez sejam a minoria. Mas qual é o papel das políticas públicas se não proteger os mais vulneráveis? Não deveria o Estado proteger a minoria mais vulnerável?

Evidentemente, existem muitos outros grupos, mas esses são os maiores. É evidente também que todas essas questões são passíveis de discussão e que assim seja. Essa é a intenção deste post. Quero levantar dúvida e gerar questionamento. Se formos capazes de duvidar, seremos capazes de responder um dia. O que preocupa é a indisposição para o debate e decisões que desconsiderem o que pensa a maioria das pessoas.

Mas a dúvida que mais preocupa e incomoda é que deve existir um grupo que lucraria muito com a legalização da maconha. Não são os 3% de usuários ou os 11% que concordam com a legalização. É um grupo muito menor, que vê em nossa ingenuidade e na possibilidade econômica uma grande oportunidade. Nesse grupo não há espaço para ingênuos, do que se conclui que entre os que concordam também há um grupo de ingênuos.

A pergunta que cabe neste caso é o que fazer para não ficar nesse grupo e inadvertidamente lutar pelos interesses de tão pouca gente?

Questionar e duvidar pode ser o primeiro passo. Saber em qual grupo nos incluímos, o segundo. E, por fim, tentar responder: a quem de fato interessa que a maconha seja legalizada? Interessa a você, leitor? Por qual motivo?


Dr. Cláudio Jerônimo da Silva – psiquiatra e Diretor Técnico do UNAD

terça-feira, 20 de maio de 2014

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LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS NÃO É CAMINHO PARA DIMINUIR VIOLÊNCIA.

Sou firmemente contrário à liberação das drogas no Brasil. Falo como médico, estudioso do assunto, e gestor de saúde pública por oito anos, como secretário de Saúde do Rio Grande do Sul e presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde.

A experiência me permite afirmar que a epidemia das drogas se constitui no maior problema de saúde pública e de segurança no país. Com a liberação, aumentará o número de dependentes químicos das drogas.

Nos últimos 200 anos, já tivemos verdadeiras tragédias sociais em todos os locais onde as drogas foram liberadas. Junto com o aumento de transtornos mentais decorrentes da dependência, aumentaram os problemas sociais, de segurança e de saúde. Sem falar na destruição de milhões de famílias, devastadas quando um de seus membros se torna dependente. Quem tem um caso de dependência na família sabe do que falo.

A China, no século 19, guerreou contra a Inglaterra para (pasmem) poder proibir o ópio. A Suécia teve graves problemas sociais, de saúde pública e segurança com as drogas liberadas até que, em 1969, aprovou leis duríssimas contra elas. O mesmo se passou no Japão pós-guerra. Hoje, China, Suécia e Japão têm baixíssimos índices de violência e doenças vinculadas às drogas, graças ao rigor das leis.

Os que defendem a liberação alegam que a proibição fracassou, pois o tráfico de drogas continua existindo. Ora, o álcool e o tabaco juntos, possuem aproximadamente 40 milhões de dependentes químicos no Brasil, justamente por serem legais e de fácil acesso. As drogas ilícitas não chegam à sexta parte disso. Se liberadas, ultrapassariam, facilmente, os 40 milhões de dependentes. Alguém duvida?

Prender estelionatários e pedófilos não acaba com o estelionato e a pedofilia. Mas, haveria muito mais se não fossem proibidos. As leis e as proibições não eliminam totalmente os crimes, mas diminuem sua incidência e o número de vítimas. Os países que jogaram duro contra as drogas foram os que mais reduziram o número de dependentes e a violência. É assim da China à Cuba, dos EUA à Suécia. E nenhum país do mundo liberou o tráfico.

Violência

O argumento de que álcool e cigarro respondem por 96,2% das mortes entre usuários de drogas, enquanto cocaína e derivados, por 0,8%, e maconha por nenhuma morte é, no mínimo, ingênuo. É tanta diferença que para alguém desavisado pareceria sensato colocar na ilegalidade o álcool e o cigarro e legalizar o crack e a maconha.

Esses dados escondem a enorme subnotificação de mortes por drogas ilícitas. Com as lícitas é fácil fazer a ligação do usuário com a doença. Com as ilícitas, não. Cerca de 25% dos usuários de crack morrem antes do quinto ano de uso, metade pela violência e a outra metade por doenças ou complicações decorrentes de Aids (segundo dados da Unifesp).

Como já chegamos a 2 milhões de usuários de crack, vemos que essa substância pode causar mais danos que o álcool e o cigarro juntos.

Segundo o INSS, o crack era responsável, em 2012, por 2,5 vezes mais auxílios-doença por dependência química que o álcool. Em 2006, a maioria era por álcool. Interessante registrar é que os defensores da liberação das drogas nunca falam da gravíssima epidemia do crack, que cresceu muito nos últimos oito anos.

A maconha também é letal. Os riscos de complicações pulmonares e câncer que ela traz são maiores que os do tabaco (Fonte: The impact of cannabis on Your Lungs - British Lung Foundation - 2012). Para compreendermos melhor seu risco, devemos considerar ainda que ela desencadeia outros transtornos mentais, como esquizofrenia. A droga ainda está associada a acidentes fatais e, para 2 milhões de usuários, ao crack e à cocaína (Unifesp).

As drogas ilícitas, lideradas pela maconha, já têm importância maior que o álcool nos acidentes fatais com veículos (Fonte: Soibelman,Pechansky et cols.2010). Outro argumento mágico é de que legalizando a maconha, a violência gerada pelas drogas desaparecerá.

O problema da violência em relação às drogas é que ela não é gerada só pelo tráfico. Antes dele estão o transtorno mental e a diminuição do controle sobre os impulsos causados pela droga no cérebro humano.

A liberação de drogas causará um aumento colossal no número de pessoas afetadas por esse transtorno. A violência doméstica, o latrocínio, a violência no trânsito, os suicídios e até homicídios por discussões banais aumentarão.

Por tudo isso, devemos, sim, restringir mais o uso do álcool e do cigarro e aumentar o rigor contra as drogas ilícitas, como propõe o meu Projeto de Lei, o 7663/2010, já aprovado na Câmara. Não existe outro caminho.


HADDAD AGORA VAI DEMITIR VICIADO EM CRACK QUE NÃO TRABALHAR.
 É MESMO, É? NÃO ME DIGAM!!!

E não é que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do PT, decidiu que os viciados em crack contratados pela Prefeitura que não comparecerem ao trabalho serão desligados do programa “Braços Abertos”!? Se bem se lembram, trata-se daquela literalmente estupefaciente iniciativa que garante a um grupo de viciados emprego, salário, casa e comida. E sem exigir deles nada em troca! Não são obrigados a se submeter a tratamento. E, creiam, não se cobrava nem mesmo a frequência ao trabalho. Como a remuneração é feita por dia — R$ 15 por quatro horas —, pagam-se as jornadas “trabalhadas” e fim de papo.

Ora, aconteceu o óbvio: boa parte dos beneficiários não dá as caras e só se aproveita de uma parte do programa: a que garante casa e comida. A renda que conseguem, para financiar o vício, deriva de alguns bicos que fazem e de pequenos delitos. Trabalhar pra quê?

Leitores, prestem atenção: governantes existem não apenas para corrigir problemas, mas também e sobretudo para se antecipar a eles. Ou por que precisaríamos manter a pesada máquina estatal? E eis, então, que se revela um dos principais defeitos da gestão de Haddad: ele está sempre atrasado em relação ao óbvio. Ou por outra: o óbvio chega antes, e ele vem depois.

Quando o petista lançou o tal “Braços Abertos”, escrevi aqui aqui  um longo texto apontando suas sete grandes imposturas:
1: O programa de emprego para viciados atingia quase 400 viciados, e se estima em 2 mil o número de frequentadores da Cracolândia;
2: o programa “Braços Abertos” atendia (?) apenas os viciados que resolveram criar uma favela no meio da rua;
3: decidiu-se premiar com trabalho, salário, casa e comida quem ocupou o espaço público na marra para manter o seu vício; os benefícios são superiores aos pagos pelo Bolsa Família;
4: os viciados receberiam benefícios, mas não seriam obrigados a se tratar nem a trabalhar;
5: os viciados têm renda, oriunda ou do trabalho informal ou de práticas criminosas; o dinheiro da Prefeitura seria um suplemento que estimularia o consumo de drogas;
6: se a Prefeitura fornece casa e comida a drogados que criam favelas no passeio público, por que não fazer o mesmo com quem não é viciado?;
7: o Prefeito escolheu o caminho mais fácil e mais barato: financiar o vício em vez de combatê-lo.

Digam-me: era ou não evidente que a iniciativa daria com os burros n’água? Como é que um programa que remunera viciados, sem exigir deles nada em troca, que os sitia numa área em que a polícia não entra, garantindo-lhes casa e comida, pode ambicionar ser de “combate ao crack”? Ao contrário: trata-se de um programa que estimula o consumo.

A última trapalhada do Prefeito na região se deu com as tais grades. A Prefeitura decidiu instalá-las para tentar delimitar o espaço ocupado pelos viciados e pelos traficantes, abrindo caminho, tanto quanto possível, para o cidadão comum poder transitar por lá, já que existem moradores naquela área da região central. Não adiantou! Os ongueiros viciados em viciados protestaram; os líderes — Santo Deus! — dos frequentadores da Cracolândia não gostaram, e as tais grades foram retiradas pelos próprios consumidores de crack, que se transformaram no verdadeiro poder público por ali.

Na campanha eleitoral, Haddad prometeu que daria à Cracolândia uma resposta inovadora. Não se pode acusá-lo de ter traído esse propósito, não é mesmo?


Por Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 14 de maio de 2014





Casa de Maria:

Rua Romário Gomes, 235, Cabo Frio - RJ . Perto da garagem da Auto Viação 1001.

quinta-feira, 1 de maio de 2014




"LARGUEI A ESCOLA PELO BAR": O DRAMA DOS JOVENS QUE LUTAM CONTRA O ALCOOLISMO”.

 Fonte: IG Notícias - Por Natália Eiras , iG São Paulo

Fernanda*, 19, e Roberta*, 22, começaram a beber para curtir, mas se tornaram um dos 1,6% dos jovens brasileiros em idade escolar que fazem uso pesado do álcool. Hoje recuperadas, elas contam ao iGirl a sensação de ter chegado ao fundo do poço. “Bebia para ficar muito louca. Podia ser até gasolina”

Aos 13 anos de idade, Roberta* não tinha muito o que fazer depois da aula no bairro onde morava, na extrema zona leste de São Paulo. O rolê favorito dela e dos amigos era matar o tempo em uma pista de skate que estava sempre vazia, e trocar ideia em tardes muito loucas regadas a pinga barata ou vinho de barril. “Não era o álcool em si, mas a situação.

Queria estar com as pessoas, me desinibir”, ela lembra. “Era para ficar muito louca. Não interessava o que estava bebendo, podia ser gasolina. Não tinha nenhum pingo de moderação.”A história de Roberta se repete todos os dias Brasil afora. Segundo o 6º Levantamento Nacional Sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio, divulgado, em 2010, pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), os jovens bebem pela primeira vez, em média, aos 13 anos.

De acordo com o Cebrid, os jovens brasileiros tem o primeiro contato com o álcool aos 13  O estudo dá conta que 60,5% dos adolescentes de 10 a 18 anos já consumiram bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida e 1,6% já faz uso pesado, com mais de 30 vezes por mês. “Alcoolismo na adolescência não é comum, mas um excesso cada vez mais presente.

E os jovens estão começando a beber mais cedo”, explica o Dr. Arthur Guerra, fundador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas, da Universidade de São Paulo.Vítima de bullying na escola, Roberta usava o “goró” como uma escapatória, tanto do tédio como da timidez. “Você nunca é aceita em um ambiente, mas finalmente se sente parte do grupo. Então você quer estar por dentro. O álcool ajuda a perder o medo de socializar”, ela diz. De acordo com a Dra. Ana Cristina Fraia, coordenadora da Clínica de reabilitação Maia, este é o primeiro indício de uma relação problemática com a bebida.

“Em vez de criar estratégias para se sair melhor em uma conversa, está começando a depender do álcool.”Para Roberta*, a situação se tornou mais evidente quando não conseguia nem desenvolver funções básicas do dia a dia sem estar alcoolizada. “Na escola eu matava aula com a turma para beber, mas, na faculdade, eu fazia isso sozinha. Não era mais uma questão social”, conta.

A paulistana, hoje aos 22 anos e professora, transformou o álcool em refúgio, usado no início da vida adulta como calmante -- e tudo por culpa de uma brincadeira com os amigos.

O hábito começa em casa

Festa de criança. Brigadeiro e bolo de chocolate na mesa. Tubaína para as crianças e, para os adultos, uma cervejinha, uma caipirinha. Bem no centro do seio familiar, este ambiente não parece ser nocivo para um adolescente, mas, de acordo com especialistas, é aqui que eles bebem pela primeira vez. “O primeiro contato sempre se dá na própria casa, com os amigos e familiares. Chamamos isto de batismo”, afirma Arthur Guerra.

O primeiro “pt” (sigla para perda total, quando uma pessoa bebe a ponto de passar mal) de Fernanda*, 19, de Santos, no litoral paulista, foi em uma festa em casa. “Minha mãe até tirou sarro quando eu estava vomitando”, lembra. A partir desse dia, ela começou a consumir álcool regularmente e a situação só se agravou, principalmente porque na mesma época ela perdeu o pai. “Calhou de eu começar a fazer amizade com uma galera mais ousada”, afirma.

Em vez de se restringirem aos fins de semana, as bebedeiras se tornaram frequentes. “Ficava de segunda a segunda no bar. Chegava em casa só para dormir para sair à noite”. Tendo a vida dividida entre o copo de cerveja e a cama, Fernanda* não conseguia mais assistir às aulas do ensino médio. “Larguei a escola para ir ao bar. Não consegui terminar o colégio”, lamenta.

Em um dado momento, o álcool não era mais o bastante para a jovem. “Comecei a ter blecautes”, conta. “Bebia muito, fazia coisas ruins durante à noite e, no dia seguinte, não lembrava de nada. Então comecei a usar cocaína pra cortar o efeito e beber mais”. Depois de três anos de abuso do álcool, as consequências apareceram em um exame de rotina para a psicológa. “Aos 18 anos, tive princípio de cirrose no fígado. Fiquei bastante assustada”.

O diagnóstico

De acordo com o Dr. Arthur Guerra, é difícil diagnosticar um adolescente como alcóolatra. “É preciso anos de consumo para causar dependência, abstinência”. Dra. Ana Cristina Fraia diz, ainda, que dar o diagnóstico pode fazer mais mal do que bem. “É muito cedo para rotularmos alguém com algo tão pesado.”

Apesar de não haver uma “rotulação”, alguns sinais esclarecem se o consumo de álcool de um adolescente é anormal. “Eles começam a ter perdas. Perde a namorada, os amigos, por causa da bebida”, diz Arthur Guerra. “Todo mundo bebe, mas ele mais do que os outros. Quando o álcool está sendo usado como uma muleta para superar dificuldades”.
Roberta* tinha medo de falar sobre o assunto, mas só depois de procurar ajuda conseguiu aos poucos superar o problema

Roberta* teve um “insight” por volta dos 18 anos de que o “hábito”, como ela fala, tinha ido além. “Quando estava chegando no bar onde eu sempre ia e o atendente já estava abrindo uma cerveja na minha mesa de sempre”, admite. Mas ela só foi ter a real dimensão da situação três anos depois, na terapia. “Há pouquíssimo tempo comecei a falar sobre.”

Fernanda*, por sua vez, passou pelo susto no exame, porém a ficha só foi cair depois de responder um questionário para a terapeuta. “De 10 critérios, eu me identificava com 7 [para quem sofre com o alcoolismo]. Ela [a médica] me falava que eu poderia ser alcoólatra, mas eu não acreditava. Fiquei tão mal que, às 10h, saí do consultório, fui até o posto da esquina e comprei uma cerveja”, confessa a jovem.

O que os pais podem fazer?

Na casa de Roberta*, nunca se falou sobre o assunto. “Até poderia falar com a minha mãe, ela me dá muita abertura, mas isto é uma coisa muito minha. Tenho até um pouco de vergonha de estar nesta situação de vulnerabilidade”. Com Fernanda*, o caso foi oposto: “Contei para ela durante o almoço. Ela não ficou surpresa, ficou mais me consolando, mas ficou assustada. A gente não imagina que dá para ser alcoólatra com 18 anos.”

Ana Cristina Fraia aponta que a família é importante na hora de passar um exemplo do consumo consciente do álcool. “Bebida é coisa de adulto, não é de criança e nem de adolescente. Se vai beber na frente do filho, o faça de maneira controlada e em ocasiões sociais. Se o pai tiver um comportamento ruim, o filho vai imitar”, diz categoricamente.

A lei brasileira e os médicos defendem o consumo da substância apenas para maiores de 18 anos. “O cérebro do adolescente está em plena expansão e o álcool pode atrapalhar”, pontua Arthur Guerra. Mas são poucos os jovens que seguem à risca o regulamento, por isso, os parentes também têm o papel de conscientizar. “Se ele é orientado provavelmente não vai ter problema. É nocivo quando sai do controle. Precisa ensinar”, afirma Ana Cristina Fraia.

Recuperando o futuro

Passado o susto, as duas jovens optaram pelo mesmo caminho: deixar o hábito para trás. “Depois disso [o insight], não coloquei mais nenhuma gota de álcool na boca”, diz Roberta. “Fui parando aos poucos, então não senti abstinência. Desde o começo do ano não uso mais nenhuma substância”, se orgulha Fernanda.

Atualmente, a professora de São Paulo até consegue apreciar bebidas alcoólicas, principalmente cervejas importadas, as suas favoritas. “Mas sei que, se eu tivesse a predisposição, eu seria alcoólatra. Beber é um hábito o qual você consolida. Não precisa ter uma compulsão”, diz. O seu principal aliado é o auto-controle: “Aprendi que tenho que beber quando estou feliz, não quando preciso escapar da realidade.”

Namorando há um ano e meio, Fernanda está em plena recuperação, do alcoolismo e do futuro. No dia em que falou com a reportagem, a jovem estava indo se inscrever no supletivo. “Gostaria me formar em Arquitetura ou Engenharia.”


*Os nomes foram alterados para resguardar a identidade das personagens