Polícia fica de mãos atadas
contra usuários do crack.
Valquiria Lopes Pedro Ferreira - Jornal O Estado de Minas
Polícia fica de mãos atadas contra usuários do crack
Polícia Militar diz que só pode coibir usuários de crack quando são flagrados cometendo
crimes. e mesmo quando detidos são liberados nas delegacias e voltam para as
ruas. mas lojistas do hipercentro de bh reclamam de ameaças e assaltos, que
aspantam clientes
Usuários fumam crack e ocupam espaços públicos na avenida Santos Dumont, no
Centro de BHTrês horas de uma tarde chuvosa. O grande movimento de pedestres,
carros e operários da obra do BRT (transporte rápido por ônibus) não atrapalha
o tráfico e o consumo de crack na Avenida Santos Dumont e no entorno, inclusive
na Praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte. Em frente a uma igreja
evangélica, no número 488, eles vendem e consomem a droga tranquilamente,
alheios à presença de policiais militares que revistavam suspeitos a menos de
20 metros dali, no canteiro central. Eles também ameaçam e assaltam lojas.
O medo e a insegurança levaram comerciantes do Hipercentro a procurar a
Polícia Militar, o Conselho de Segurança Pública da região e até a contratar
vigilantes. Além dos usuários de crack, lojistas reclamam da proliferação de
moradores de rua, grupos hippies e indígenas, que afastam clientes e prejudicam
as vendas. A PM afirmar estar de mãos atadas. Alega que detém os usuários de
crack, mas eles são liberados nas delegacias e voltam para as ruas. Pela lei de
drogas, posse de entorpecentes para consumo pessoal não é mais crime. Nesse
caso, cabe ao delegado decidir se é uso ou tráfico. “Quando verificamos as
estatísticas criminais, os números estão caindo, mas as pessoas estão
reclamando da sensação de insegurança que pode ser vista na rua. A polícia está
presente, mas não pode retirar moradores de rua das vias públicas, nem os
hippies e indígenas”, afirmou o comandante da 6ª Cia, Major Gedir Rocha,
responsável pelo policiamento no Hipercentro. Segundo ele, o trabalho da PM,
neste caso, se restringe a abordagens diante de atividades ilícitas, como uso
de drogas ou venda de produto furto e de roubo.Segundo o militar, o problema da
Avenida Santos Dumont começou com o fechamento da via para as obras do BRT. “O
local ficou abandonado, porque a obra esteve parada por um tempo. A iluminação
é muito ruim e o canteiro ainda está cercado de telas. A Santos Dumont
tornou-se um lugar propício para a presença de moradores de rua, que vão ali
também usar drogas”, explicou RochaProtesto de comerciantes“Virou uma
cracolândia. Ali ficam os que vendem crack e usuários. Costumam ficar até 30
jovens amontoados, de dia e à noite, na porta dessa igreja”, reclama o gerente
de uma loja de variedades, Vítor Fonseca, de 25, que todos os dias chega para
trabalhar e encontra homens, mulheres e até crianças alucinados e violentos.
“Os clientes têm medo de entrar na loja e evitam passar na calçada”,
reclama.Fiscal de papelaria, Luiz Silvério disse que a polícia perdeu o
controle da situação. “A PM passa uma vez, dá buscas neles e vai embora. Os
drogados dão uma volta no quarteirão e retornam. Durante o dia e a noite toda
eles ficam zanzando, não dormem nunca, olhos vidrados, sujos, parecendo
zumbis”, compara Luiz Silvério, que teve sua loja arrombada e atribui o crime
aos usuários de crack.A agilidade de um jovem no preparo e venda do crack é
impressionante, na Santos Dumont. Quando a droga da mochila acaba, ele recorre
a uma lixeira próxima, que funciona como depósito. Na mesma lixeira, ele apanha
um plástico e em poucos segundos o rasga em pequenos pedaços e joga no chão,
para serem apanhados pelos comparsas encarregados da “dolagem” (embalar).Os
“zumbis” descritos por Vitor estão em toda a parte, na Praça Rui Barbosa, em
frente à Praça da Estação, na Rua Caetés, Praça Sete, Avenida Paraná e Rua
Guarani, preocupando comerciantes, funcionários e clientes de lojas e pedestres
nos pontos de ônibus.Gerente de uma lanchonete na Santos Dumont, Paula Silva,
de 30, conta que já trabalha sobressaltada com tantas ameaças. O
estabelecimento já foi assaltado duas vezes. “Chego às 5h da manhã e eles já
estão todos alucinados. Ficam pedindo dinheiro dos clientes, mas só comem se
alguém der o lanche. Guardam o dinheiro para comprar crack”, disse Paula. Segundo
ela, muitos usuários passam a tarde dormindo debaixo de marquises e viadutos e
reaparecem no início da noite. “Chegam fumando crack, saindo fumaça da
latinha”, disse.A operadora de caixa Fátima Ferreira, de 57, observa que muitos
viciados chegam de outras cidades, com mochilas nas costas e ainda com as
roupas limpas. “Eles vão ficando aí, fumando crack, e a situação é cada vez
mais degradante. Vendem até a roupa do corpo para comprar crack e acabam
virando moradores de rua”, disse. “E não são apenas homens. Há mulheres e até
crianças de 9 e 10 anos que passam fumando crack como se fosse cigarro comum”,
completa Paula.O fechamento das avenidas Santos Dumont e Paraná, para obras do
transporte rápido por ônibus (BRT), trouxe transtornos para o trânsito e dor de
cabeça para quem trabalha ou passa por essas vias. Dona de loja de celulares,
Lucinéia Mendes dos Santos, de 33, conta que foi assaltada há três semanas. Era
por volta das 16h, segundo ela, e o rapaz drogado a abordou com uma arma de
fogo. “Levou R$ 500. O movimento na rua diminuiu muito com as obras. Eles
reabriram parte da Santos Dumont, mas não resolveu. O policiamento é precário e
você não vê PM por aqui”, reclama.Furtos e roubos fizeram o dono de uma loja de
roupas na Avenida Paraná contratar um segurança particular, Jaconias de Moura,
de 22. “Os usuários de drogas entram e ficam pedindo dinheiro aos clientes.
Eles pegam peças de roupa e saem correndo”, afirmou o rapaz.Na Caetés, o medo
também impera. E já não adianta mais chamar a polícia, reclama o dono de uma
loja de roupas para bebês, Roberto Carlos Monteiro, de 48. “Os viciados passam,
enchem a sacola de roupas e saem correndo”, disse.Na quinta-feira, Roberto foi
alertado por uma cliente de um furto e ele correu atrás do ladrão. “Consegui recuperar
a mercadoria. Passava um carro da PM e os policiais perguntaram se eu queria
registrar boletim de ocorrência. Eu disse que não, pois não adianta. Os
bandidos deixam a delegacia antes mesmo da gente e não quero perder tempo
prestando depoimento”, desabafa Roberto.A Regional Centro-Sul da Prefeitura de
Belo Horizonte afirma ter ações de abordagem para moradores de rua e usuários
de drogas, mas não pode tirar ninguém compulsoriamente das vias públicas. O
trabalho é diário e são feitos encaminhamentos para serviços de saúde e
assistência social.
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