segunda-feira, 23 de janeiro de 2012


Álcool: vilão para a família e para o comércio.

Lei Antiálcool multa dezenas de estabelecimentos e tenta evitar que histórias como a de Paulo se repitam.
Um gole de álcool e o fundo do poço. Quem bebe pela primeira vez não associa a cerveja, por exemplo, à destruição da família e do futuro e  que a bebida pode levar ao vício de outros entorpecentes.
Uma pesquisa do governo estadual aponta que 18% das pessoas entre 12 e 18 anos bebem regularmente. Outra revelação é que quatro a cada dez menores de idade compram bebidas alcoólicas nos estabelecimentos comerciais.
Para impedir a venda e o consumo a  menores, foi criada a Lei Antiálcool. Em dois meses, 34 estabelecimentos foram multados em Sorocaba, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
O comerciante tem de pedir o documento de identificação ao consumidor para realizar a venda ou deixar que o produto seja consumido no local.
Aos 13/ O mesmo estudo mostra que o consumo de álcool começa, em média, aos 13 anos, mesma idade em que Paulo (nome fictício), 25, tomou o primeiro porre.
Ele relata que a sua porta de entrada para o vício das drogas foi a bebida. Só percebeu que estava doente depois que perdeu a namorada e começou a vender as roupas que vestia. “A primeira vez que experimentei cerveja foi na infância. Tinha uns 8 anos. Foi meu pai quem me ofereceu. Aos 13, fiquei bêbado com destilados”, conta.“Para mim, bebida era sinônimo de alegria. Meus amigos e eu nos reuníamos aos fins de semana para encher a cara.”
Aos 17, Paulo estava viciado em maconha, cocaína e crack. “Eu achava que podia controlar a vontade, mas o corpo pedia mais droga”, afirma.
A procura por ajuda ocorreu quando o rapaz não tinha mais controle da sua vida. “Primeiro a gente nega que tem o vício, mas percebe que tudo está fora de controle. Não rende no serviço, quer trocar tudo que tem por droga e causa sofrimento à si e à família”, detalha.
Há dois anos ele está “limpo”. Nunca ficou internado em uma clínica de recuperação e participa de reuniões em grupos de apoio quatro vezes por semana. “Eu nunca poderei voltar a beber, pois o corpo não diferencia o tipo de droga consumida”, diz. “Para o resto da vida terei de fazer tratamento. Hoje, graças a Deus, consigo me controlar.”
Família/ De acordo com a psiquiatra  Maria Clara Schnaidman Suarez é a família quem incentiva o uso de bebida alcoólica. “O pai ou a mãe dá a desculpa que a criança ficará com vontade, então molha a chupeta na cerveja”, descreve os casos mais comuns. “Não dá para descobrir quem tem pré-disposição a ser dependente.”
A psiquiatra diz ainda que a primeira droga a ser experimentada é o álcool, seguido da maconha. “Ninguém atribui à bebida alcoólica à dependência porque ela é lícita”, explica. “A melhor coisa é evitar o primeiro gole ou trago.”
Diálogo é o melhor caminho
As curiosidades surgem na adolescência. Pais contam que usam a conversa para orientar

Apesar da fiscalização em bares, lanchonetes e restaurantes pela Lei Antiálcool, os pais de adolescentes se preocupam com o bem-estar dos filhos quando eles saem para se divertir. “A educação começa dentro de casa. Sempre oriento meu filho a não ingerir bebida alcoólica”, diz a professora Márcia Garibaldi Barreto, 58 anos. “Longe dos nossos olhos fica difícil creditar a confiança nos estabelecimentos, pois alguns podem descumprir a legislação.”
Seu filho, o estudante Lucas Garibaldi, 17, revela que já experimentou bebidas alcoólicas, mas não gostou. Por isso, quando sai deixa a mãe despreocupada. “Detesto o sabor e quando vejo meus amigos passando por vexames por causa da bebedeira, tenho mais certeza que não quero isso para mim”, afirma.
A psiquiatra Maria Clara Schnaidman Suarez orienta que a família é quem deve dialogar com os adolescentes e alertar sobre os riscos que o vício pode causar à saúde.
A dona de casa Neuci Andrea Rodrigues Pereira, 51, por exemplo, tem esse tipo de conversa com a filha, Andrea, 17. “Como ela tem diabetes, lembro que  não pode beber.”
A moça relata que também nunca teve curiosidade de experimentar.
“Digo à ela que, se tiver vontade, pode tomar. Se disser que não pode, sei que isso vai aguçar a vontade”, conta a mãe.

De olho/ Conforme a  Vigilância Sanitária de Sorocaba, os resultados da Lei Antiálcool na cidade apontam que o trabalho de fiscalização é eficaz. “A legislação quer evitar a ingestão precoce, nociva e perigosa de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes, pois  pode causar dependência, doenças, problemas familiares, violência, acidentes e mortes”,  diz a diretora da Vigilância Sanitária, Maria Cristina Megid.
Mesmo acompanhados dos  responsáveis, menores de idade não podem comprar ou ingerir bebida alcoólica em estabelecimento comercial.

Tatiane Patron


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